milagre
sempre que me vê,
a Ana acha fácil meu sorriso,
como o hábito cotidiano de existir,
ter ao pé esta árvore que, dê limões ou pêssegos,
é também o lugar onde cai e, sem escolher,
passa a ser.
ou como se os céus se fizessem,
assim, como surge um céu no meio do caminho infinito (e há céu)
ou ainda coisa mais simples debaixo dele,
uma folha que sabe voar sem nunca ter aprendido
ou um ipê vestindo-se do amarelo mais nobre para celebrar
a chegada de sua estação preferida.
(e temos sorte de não precisarmos explicar à mais neófita das crianças como viemos a achá-las simples)
...........................................................
e, sim, tem razão.
e não sabe o que diz.
a certeza de haver milagre
impedindo Ana de ver que é incrível.
assim, meu riso vem de finalmente me dar conta
de que tenha havido a inacreditável realidade
da presença dela diante dos meus olhos
e um mundo em se possa chamar a isso fácil.