PAI-MÃE-AMIGO.
Meu pé de moleque
Ligeiro
Quer jamelão.
No alto do pé,
Bem alto,
Estão os melhores,
Os mais graúdos.
Meu pé ligeiro
De moleque travesso
Já subiu
O tronco do jamelão.
Meu pé de moleque
É meu cérebro no chão.
Porque menino
Age num impulso só.
Meu pé de moleque
Habilidoso
No jeito da escalada
Encontra a furquilha exata
Pra chegar ao melhor cacho.
Num lance
Muito rápido,
Apanho o cacho
E sacudo com força.
Por trás dele,
Escondida
Estava uma casa
De marimbondo chumbinho.
Não larquei do cacho,
Meu troféu de moleque.
Levei as ferroadas que merecia
E as que não também.
Inchando a face,
Inseguros os
Meus pés de moleque,
Fraquejei.
Lançado do alto,
Bem alto,
Do pé de jamelão,
Estatelado no chão
E o queixo quebrado.
Ensangüentado,
A roupa rasgada,
Chego à casa
Com o meu troféu,
Num berreiro
Nos céus ouvido.
Meu pai
Já viúvo,
mãe e pai,
Me olha ungido
Pela maternidade adquirida.
Banha-me no tanque do quintal.
Limpa as minhas feridas,
Me faz curativo.
Meu amigo.
Depois,
Sentados juntinhos
Meu pai-mãe-amigo
e eu, pé de moleque,
Comendo jamelão.