Abstrato - suíte Nº1
Olhando para uma das telas de Miró,
no abstrato da situação,
quero entender os traços,
as cores,
a leveza da mensagem
nas pinceladas meticulosas...
Surge uma criança.
Um moleque de boné.
Por um momento o vejo perdido
na indecisão entre:
levar o pão nosso de cada dia,
e o seu coraçãozinho
puramente brasileiro...
De sua carinha,
brota um sorriso brejeiro
de quem está a maquinar travessuras.
O nosso país tem feito
com que as crianças cresçam
precocemente,
perdendo a vivacidade,
a ingenuidade
de sua própria infância...
A tevê tomou conta do espaço
para as antigas brincadeiras.
Acenou tristemente para
o chicotinho queimado,
cabra-cega e o pique-esconde.
O computador apossou,
indiscriminadamente,
do tempo em que elas se
dedicavam aos livros:
As clássicas histórias infantis_
Chapeuzinho vermelho,
Cinderela,
A Bela adormecida.
De quem é a culpa?
Fabricantes de vídeos-games?
Informatização?
Desmaterialização?
Miró,
por um momento,
conseguiu resgatar a criança
adormecida que ainda
vive dentro de mim...