ENTRE ASPAS
"Asas eu as tenho dadas por Deus. No entanto, falta-me o ouro com que ligá-las ao corpo frágil!"
Deixou-me o autor destas palavras
lembranças contrárias às idealizadas.
Poeta! Inteligente! Pobre-rico!
Mas nem todas essas palavras
foram suficientemente sábias
para salvá-lo do engano atroz
contra mim: anjo puro, demasiado
à época de 57 e 58!...
Sorri! Sofri! Chorei! Envelheci!
Revivo emoções variadas
firmo-me em provas concretas
debato-me em várias hipóteses
de fraquezas culminantes
exatamente a exposta acima.
E penso! E choro! E lamento!
Por que o ser humano é tão descrente?
Porém, existem os valentes
os quais não se deixam jogar em barcos
naqueles da dúvida e da injustiça!
"Asas eu as tenho dadas por Deus!..."
colocação filosófica e grandiosa!
E por que as tuas asas, ó homem,
não foram, permanentemente, capazes
de elevar-te às alturas máximas
evitando-te da covardia deprimente
contra o engano mórbido e vulgar?
És feliz, ou, contrariamente, infeliz?
Consegues, ainda, expor, sensivelmente,
os sentimentos profundos da tua alma?
Ou limitas a viver o dia a dia?
Vejo-te traçado o exterior
os anos pesando-te nos ombros
o teu caminhar, ainda, igual
mas nada além do que direi
ficou em mim do teu interior.
Falaste do ouro e do corpo frágil
tens o acréscimo do vil metal, suponho,
fizeste a ligação entre ambos?
O que és após esses anos?
Lembras-te do silêncio, na dúvida,
contra o anjo puro, em demasia?
Tens, quem sabe, a presunção do dizer
agi, corretamente, como homem
Enfim, eu te sentencio
de todo o meu sentir profundo.
Teresina, 23 de setembro de 1982.
(Do livro "Caminhos", Teresina, 1986, páginas 67-68.)
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