DOR REPENTINA
Circunstância má que me faz triste
e nela mergulho numa saudade
de ti, enormemente, sinto-a, no peito
Caso a tristeza não me visitasse
sei que não sentiria a tua falta
És como algo que se forma, na minha vida
somente quando a dor me é insuportável.
Por acaso estás vivo e o que fazes?
Sabiamente percorres o caminho dos justos
ou inversamente o caminho dos maus?
Ou porventura estás assim como eu
com esta dor repentina a me envolver?
Ou és um privilegiado ante o grito de dor
disfarçando-se, corajosamente, dela?
Como me sinto doída neste instante
longe dos meus filhos, tesouros incalculáveis
Quedo-me, pois, a buscar-te porque me alivias
dos pensamentos capazes de roubar-me a razão.
Lanço-te o meu apelo, a minha saudade, a minha vontade
Nenhum deles é maior do que a minha desventura
de me sentir tão só e tão doída
frágil em entregar-me ao pranto maior
de deixar-me lavar com as minhas lágrimas
e de voar, tão rápido, lá, pro meu Piauí:
pobre, seco, quente, porém a minha terra
especialmente dos meus filhos queridos
um distante, lá, no grande Recife
a filha, também, lá, no Piauí
e eu aqui sem os dois, no Belém do Pará
Saudades terríveis que sinto
lágrimas muitas que me devoram
dor profundíssima que me atinge
e que me fazem procurar-te, com força.
Bendigo o fato de lembrar-me de ti
porque me impediu de procurar outros ares
que me teriam obstruído os pulmões
lançando-me nas trevas malditas.
Força privilegiada me revestiu
do buscar-te onde quer que estejas
porque tu trazes calmaria pros meus ânimos.
Belém, 09 de setembro de 1982.
(Do livro "Caminhos", Teresina, 1986, página 66.)
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