selvagens

(poesias extraídas do e-livro "mulheres dançando em êxtase selvagem)

*

eles estão abertos a transcendências

ela por enquanto não te deseja nunca mais

ele a ama eternamente neste momento

eles são eternos e pouco duram

e se encontram todo dia num futuro

cheio de telepatia e felicidade

eles nos acenam

do alto do disco voador

e são mortais como o sol.

*

mulher com fome

como que onça em mata desmatada

animal faminto

que não sabe comer na mão.

*

borboletas albinas

águias predadoras de cobras

orcas com dorso ao vento marinho

que outras imagens?

que outras carnações?

outras revelações naturais

o mundo como é

os olhos puros de eva

teus olhos.

*

a espiral do nada nos absorve

capturando-nos

fortalecendo-nos

revigorando e confundindo os dias

dando-nos

a ciência do peso destes

a dúvida é uma bigorna

é um boeing

uma biga de batalha

com cavalos inflamados

a correr

com fome e desespero

musas montam em pêlo

em fogo

e em neblina de história remota

louvada sua possibilidade de existir

velozes, certeiras, confusas, musas

fêmeas do tempo circular.

*

já morei nos teus olhos

na tua face me vi

quando te vi

teu umbigo

o quentinho do teu ventre

o conforto do teu corpo inteiro.

*

você pra mim

pra minha vida feliz

pra minha pele florir

pra mim não há anjos

e tuas asas são apenas cinema

teu corpo feliz e vivo

é a minha tela viva

você pra mim é meu par

e somos ímpares.

*

isso aqui não é um amor perdido

isso aqui é nosso vacilo

é o nosso pão apaixonado

na boca do mendigo

bendito amor chorado.

*

ela derramou o vinho

ela: derradeira

ela: minha

eu bêbedo disperso danado

ela vinha.

*

duas coxas separadas

duas conchas musicais

duas células seladas.

*

pedaço de vida

amparada pela lembrança

daqueles dias

dias de fogo

a viajante pálida

a tremer e queimar viva.

*

tua rosa salgada

trouxeste da estrada

para meu paladar

tuas cores cheias

trouxeste do teu infinito

pros meus olhos quase cheios.

*

ela se nutria

do meu leite

do meu mel

e não desperdiçava

uma só gota

ela engolia

minha vida

me matava com sua vida

que despendia da minha morte

e eu precisava ressurgir

minha renúncia

minha divisão

minha sub-vida

que ela engolia

sem desperdício.

*

eles queriam dançar

mas esqueceram

era tanto pra fazer

tanto pra experimentar

tanto pra testar

testar tuas teses

testar seu métodos

testar seus legos

tantos afazeres

que esqueceram de dançar.

*

tua orquídea se mexia

saltando do plano

contraindo-se

chamando-me para o teu jardim.

*

elas são lindas

são fotogramas

são beleza viva congelada

elas são branca e morena

são poema encantado

são levadas

e são levadas a crer

que não são tão lindas.

*

somos todos humanos

a circular e pedir desculpas

ao nosso selvagem interior

com tintas

com flor

com frutas

com os anos

com a vida

desculpas, desculpas,desculpas

até quando

eles esperarão por seu julgamento?

são homem e mulher

são pedestres inocentes

como crianças.

*

nos damos conta dessa felicidade?

temos a conta dos dias?

sabemos o peso

desse nosso orgasmo vespertino?

*

agora que estamos saciados

que o copo transbordou

que o corpo está mole

agora que a caneta

tem o peso do chumbo

o que vou te escrever?

*

as esculturas de pedra

lembravam aquele amor

as cores nas roupas

lembravam aquele amor

os olhos confusos

eram aquele amor.

*

barquinhos de papel

brancos, vermelhos

de revistas de moda...

mulheres e homens adultos

deveriam fazer

barquinhos de papel

para, como aprendizes contentes

navegarem melhor

enquanto a vida não os dissolva.

*

aquele que meus seios segurou

frente ao espelho

que na lonjura guardou

minha antiga alma em vidro

no fundo falso do vidro

que extermina frases antigas

e divide rios

depois que posamos pro espelho

eu nunca mais fui a mesma

eu me despedi da menina

eu me encontrei com a mulher

que eu em mim guardava

e ele me espera

no espelho de cada novo banheiro.

*

viver sem encantamento?

é isso?

é isso o que se pretende?

- acendo a fogueira do nosso lual

e te chamo pra dançar

em volta da fogueira

em nosso volta ao paraíso

nos encantarei.

*

somos motores

somos tratores

somos fortes e valentes

somos vermelho no branco

somos o sangue dos condenados

somos o vinho dos inocentes

somos fortes como os inocentes

e a inocência

é de uma força descomunal.

(l.f.s.)

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 28/04/2008
Código do texto: T965484