Cinzas de lembranças

"A coragem de exterminar o que nos corrói condena-nos a liberdade.

É preciso ter coragem, nos desprender do que foi, para vivermos, o que será."

Incêndio,

no sexto andar.

Lá já não havia mais nada,

mas incendiava.

Lágrimas rolavam,

mas não bastavam,

para diminuir o queimar.

Tudo se transformava em cinzas,

não existia mais nada.

Ouvia-se

gritos.

Não havia ninguém,

estava vazio.

Apenas uma caixa.

Lágrimas rolavam,

mas não bastavam.

Não faziam cessar o queimar,

do que restara.

A caixa.

Eram gritos e lágrimas,

lágrimas e gritos.

Silêncio.

Apenas ela ouvia o gritar,

desesperado, estridente.

Enquanto caixa era consumida,

pelas chamas,

onde guardara tudo,

que mais lhe valia.

Cinzas-Cinzas-Cinzas

Sem cor cinza,

negras como vazio.

A voz que escutara,

era a despedida.

A morte do que vivera,

e se ressentia,

por não mais vivenciar.

Viviam presas,

naquela caixinha,

as lembranças,

que decidiu matar.

Assassinou-as,

uma morte dolorida,

tal qual, a dor que sentia,

toda vez ,

que se permitia relembrar

Ateou fogo,

no sexto andar.

Onde morou,

com suas lembranças.

Não lhe bastou apenas,

dar adeus a vida que teve.

Ela precisou assassinar o passado,

para poder recomeçar.

Havia fogo,

no sexto andar.

Culpada,

pela morte,

do que a torturava.

Condenada,

a liberdade perpétua.

Que apenas os assassinos,

de dores,

podem gozar.

...Houve fogo,

no sexto andar...

"A coragem de exterminar o que nos corrói condena-nos a liberdade.

É preciso ter coragem, nos desprender do que foi, para vivermos, o que será.