se és morno, te vomito!
SE ÉS MORNO, TE VOMITO!
Sinto um enorme cansaço,
imenso desengano e angústia
pela geral indiferença
e o autêntico descaso
que, não por um acaso
palpita e é latente,
de um recanto a outro,
do oriente ao ocidente.
Nada mais parece ter valor,
ninguém precisa ser respeitado,
ninguém pode ser escutado
a não ser que a grande mídia,
mascarado, o exiba imaculado.
A boa ética e a moral
querem seja anormal,
pois, o insistente “é assim mesmo”
dita as regras do que é “atual”.
Penso até que o modernismo
falseado, não autêntico,
obscurece o romantismo,
n’alma mata o sentimento.
Invasivo e arrogante,
nada escuta, tudo impõe,
tudo cobra, não se dobra,
não é sóbrio nem é nobre.
A tristeza estraga e incomoda,
constrange, isola e decepciona
por não ter e não ver quem escute,
converse, troque idéia e discuta.
quem reflita e se exponha,
raciocine e interpele,
troque idéia e discorde,
reconheça e concorde.
Tanta calma falta aos sentidos
para aprender a escutar;
uma boca a tagarelar
anula e veta dois ouvidos.
A quase todos faltam tempo,
paciência e equilíbrio
de assentar prá conversar,
trocar idéia e abrir o peito,
sem que à mídia sejam vendidos
sua vontade, seu direito.
Tudo agora tem um preço
que é dado e exigido,
cobrado e reconhecido,
ao ser humano tomado,
por não ter a ele apreço
quem dele ousou descuidar.
Não suporto a traição
de minh’alma entregar
humilhada e cabisbaixa
a quem me queira dominar.
Meu grito ergo e contesto,
manifesto a aversão
de quem, como bom cristão,
não é adepto de adornos;
quente ou frio me verão,
os meus brados ouvirão,
pois, jamais me terão morno.