desnoitificação

sei tão bem da noite,

que posso afirmar:

noite sendo ela mesma,

aqui no Recife

não existe.

é, no mínimo,

uma irmã cujas feições

são semelhantes.

e mais:

irmã bastarda.

porque tem a lua branca

que passeia desocupada

pelo chão negro do céu,

tem as mesmas nuvens

que parecem calçadas

cinzentas,

e estrelas

que dançam ciranda

vomitando brilho

de tanta

embriaguez.

aí em cima, talvez,

seja noite,

mas aqui no Recife, não.

uma coisa por vez.

é noite assoltada

pelo dia

como se

o sol

se pondo

se

r-e-p-a-r-t-i-s-s-e

e deixasse um pouco de si

em cada poste:

servo do dia

que nunca adormece.

desnoitificam a noite,

mas só no Recife:

porque em mim

é noite sempre

tão anoitada

que nunca amanhece.

André Espínola
Enviado por André Espínola em 25/04/2008
Código do texto: T962166
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.