fugir para que, se fujo daquilo que não quero esquecer
Tanto andei,
tantos lugares passei.
Voltar ao começo, para que?
Já nem me conheço.
De um lado para outro,
fugindo de mim,
fugindo da vida
a procura do fim.
Alegrias, não tenho
mas as marcas que trago
me mostram o empenho, que tive
em meu próprio estrago.
Quantos tropeços eu dei?
Quantas vidas marquei?
Que herança deixei?
A não ser amargura.
Amei, traí,
fiz sofrer e sofri,
tenho o dom que herdei
de magoar quem amei.
Alegrias que tive,
no passado deixei.
Deixei no passado o sorriso,
o amor que perdi.
Amei um amor proibido,
escondido, bandido.
Só não é esquecido
pois não o quero esquecer.
E carrego a lembrança
agarrado à esperança
de poder reviver.
Não voltar ao começo,
que meu começo acabou
nosso tempo passou.
Chega a ser engraçado
que esse corpo cansado
seja mais castigado
pelo monstro passado
que ele próprio criou.
E amou.