Minhas Constelações

Minhas Constelações

Outro dia li, consternado,

a prova cabal do fim das nossas constelações,

as mais queridas:

o Cruzeiro, Orion, Taurus, Plêiades, Escorpião.

Todas vão, pouco a pouco, desaparecer.

Simularam – sempre a tal de simulação -

bulindo com o futuro,

para saber como poderá vir a ser o céu futuro...

Com o movimento das galáxias, de todos os astros,

as estrelas das nossas amadas referências celestes,

aquelas mesmas que nossos avós viram e os bisavós

procuraram para bem se orientar,

vão mudar de posição e se projetarão na abóboda,

que já foi chamado de céu das estrelas fixas,

com formas diferentes.

Orion será um comprido, um espremido retângulo.

O Cruzeiro uma reta sem lugar para o corpo do crucificado...

Taurus e o Escorpião

uma grande confusão sem forma definida.

Neste futuro eu não estarei mais aqui,

e nem dele precisava saber.

Como acharão o norte?

Como se inspirarão para compor poesias e canções?

Será tudo novo, transmitido telepaticamente,

sem contemplação ou emoção,

muito objetivo e eficiente.

As tábuas de navegação não valerão para mais nada,

nenhum triângulo de posição poderá ser mais calculado

e os navegantes estarão perdidos, perdidos,

sem referências,

sem um céu das estrelas fixas para orientação,

sem um céu para seduzir pelo mistério, sem uma noite estrelada em que se reconheçam as

estrelas arrumadas, pela imaginação, de tal forma

que pudéssemos existir segundo a determinação

zodiacal...

O que será dos librianos se Libra não estará mais lá?

O que estão fazendo com as nossas vidas?

O que estão fazendo com o nosso céu?

Parem de simular. Apenas contemplem o céu estrelado, magnífico, lindo, como hoje se apresenta

e orem agradecidos pela beleza permanente

que nos foi por Ele oferecida

e que querem também fazer transitória...

Deixem que o tempo passe e outros olhos

contemplem o futuro caos...

Tentem vislumbrar, apenas, a eternidade e,

então, contemplem o Mistério

antes que as simulações O reduzam, definitivamente,

a uma probabilidade...

(Publicada in Gerundio, Editora Maneco, 2007)

Eurico de Andrade Neves Borba
Enviado por Eurico de Andrade Neves Borba em 24/04/2008
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