História de um palhaço (sextilhas)
Tere Penhabe
Quando um sorriso pousa em faces rosas,
Dessas crianças vivas, buliçosas,
Por cambalhota que um palhaço deu...
Ninguém percebe o mundo gira em volta...
É paga a um coração que sem revolta,
Aceitou as linhas que a sina escreveu.
Porque detrás do riso de um palhaço,
Sempre se esconde um grande pedaço,
Da frustração que a vida lhe ofertou.
Jamais alguém consegue fazer rir,
Se não tiver um pranto a digerir,
Do sonho lindo que alguém lhe roubou.
Certo dia perguntei para um palhaço,
Qual razão destinava àquele traço,
No seu destino que era ser doutor.
Ele me disse: - Queres escutar?
- Senta-te e espera que vou lhe contar,
A minha história sem nenhum louvor.
Nesse momento seu riso morreu,
Homem de fé tornou-se mero ateu,
Nos bastidores do seu coração...
Eu poderia até jurar que vi,
Pranto que não correu mas eu senti.
Porém pode ter sido só impressão...
De cabeça baixa, ele foi murmurando...
"Eu tenho uma alegria nesta vida,
Que não me deixa vê-la combalida,
E ninguém sabe quanto eu dou valor.
Eu muito me realizo no que faço,
E tenho orgulho de ser um palhaço,
Nesse trabalho eu ponho muito amor.
Já fiz de quase tudo nesse mundo...
Mas ao cair no poço fui bem fundo,
E até pensei não mais me refazer.
Como o navio naufraga em alto mar,
E vê rato por rato mergulhar,
Eu vi perto de mim acontecer.
Amigo que era como meu irmão,
Que eu precisava tanto aquela mão...
Vi Pilatos tomar o seu lugar.
No começo busquei muito a razão,
Porque se rebelava o coração,
Mas no fim foi preciso acreditar.
Minha casa repleta de banquetes,
Sempre cheia, velhos, moços e pivetes,
De repente ficou triste e vazia...
Na rua ninguém me cumprimentava,
E nos lugares por onde eu passava,
Todo mundo ao me ver, se constrangia.
Sem aquele ruído de encher taça,
A churrasqueira com carne e fumaça,
Amigos e parentes debandaram.
Ninguém gosta de estar com perdedor,
Muito menos saber sua grande dor,
Apenas os credores me ficaram...
Eu tinha duas grandes opções,
Para cada uma delas, mil razões,
Precisei pensar um pouco e escolher...
Na primeira o horizonte me acenava,
O mundo é grande e a sorte me esperava.
Minha segunda escolha era morrer...
Como creio mais na vida que na morte,
Tem um único Dono a minha sorte,
Naquela madrugada eu fui embora...
Ninguém sequer pensou me procurar,
Não deixei nenhuma conta a pagar,
Razão pela qual a saudade aflora...
Muitos caminhos no mundo eu trilhei,
Colhi de tudo nas voltas que dei,
Mas algum traço, fiz errado eu creio...
Porque num dia triste de verão,
Eu vi sangrar tão fundo o coração...
Partindo sem recurso bem ao meio.
Vou te poupar, mulher, desse pedaço...
Foi simplesmente adeus sem um abraço,
Porém já está no céu quem me deixou...
E novamente tive as opções...
Que debruçaram sobre as ilusões:
- Chorar ou rir foi só o que me sobrou.
Confesso que chorei, não me envergonho,
Tem vez que o mundo fica tão medonho!
Graças a Deus alguém me levantou...
O ser de luz do qual fui responsável,
Por sua vinda ao mundo, tão louvável!
Depois vi que a procela se acalmou...
E por amar a vida tanto assim,
Fiz a promessa de mim para mim:
- Que quando fazer rir, eu não puder,
Em tempo algum jamais faça chorar!
E se para cumprir, eu precisar,
Palhaço, com orgulho, eu iria ser!"
Santos, 20.04.2008
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