Desamparo

Embacia-se o olhar

Úmido de lembranças

E é a tua fotografia

Acalanto para a saudade

No peito, o tempo inerte

No corpo, o desamparo

Uma sensação do já visto

No encapelar do olhar

Em cada silêncio

Um diálogo de esperas

Passam-se dias e noites

E é como se o tempo

Não tivesse passos

Para ainda alcançar-me

Nas mãos, as trilhas percorridas

Palavras rabiscadas e calejadas

Pelos tantos solilóquios

Na solitude do sentir

Talvez por isto escreva

Desdobrando-me em vidas

No espaço inesperado

Do abismo de cada letra

Talvez por isto respire

Para buscar o verso

Que ainda não cabe

Nas linhas que pensam

Que um dia as alinharei

Talvez por isto escreva

Para clarear a noite

Que acorda em meus olhos

Fernanda Guimarães

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 04/04/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T9577