AMNÉSIA.

Adorava soltar pipa.

Ficava maluco. Não sabia o que era mais maneiro. Empinar a pipa ou correr atrás delas, quando caíam.

Uma loucura.

Caía no quintal do vizinho, pulava muro. Enfrentava cachorro e tiro de espingarda de chumbinho e de sal.

Cortava o pé em caco de vidro, mas chegava em casa com o troféu: uma pipa ou um pião (agente falava pião).

Passava cerol na linha, gilete na rabiola. Uma batalha de pipas no ar. Às vezes, e muitas vezes, a porrada comia no chão. Era um Deus nos acuda.

Agente vai crescendo e ficando rabujento.

Não entende mais a razão desses fetiches de menino.

Implica com a criançada, não devolve a pipa e rasga-a sem dó.

Que pena!

Agente envelhece e tem amnésia.

jose antonio CALLEGARI
Enviado por jose antonio CALLEGARI em 07/01/2006
Reeditado em 30/01/2006
Código do texto: T95763