LEMBRANÇAS DE OUTONO

Sei que dormes em abandono,

Mente vazia, não há pensamento.

Nada pode te despertar desse sono,

Nada pode te causar tormento.

Em mim ainda vives e eu te vejo

Saindo do leito na manhã fria,

E tão forte é o meu desejo

Que sinto a mão morna que acaricia.

A manhã outonal passa desvairada.

Logo virá a noite de capa escura

Abafar minha prece em voz entrecortada.

Engulo, para aliviar da gorja a secura,

A lágrima, consolo sublime.

E volto a sonhar... bates à porta:

- Entra! Diz a voz que amor exprime,

De saudade estou quase morta...

O quarto é um céu que sem sol ficou.

A mobília, como árvores desfolhadas,

Esconde uma vida que se espedaçou,

E os sonhos presos em naus encalhadas.

Lá fora, cantando com voz plangente,

Como se estivesse escarnecendo de mim,

Está o vento que não sabe como gente

O que é saudade de um amor sem fim.

17/04/08