DAS MARÉS
DAS MARÉS
Lílian Maial - 28/10/2002
Teus olhos de sonda
fitando e brincando
me sabem os pontos,
os recantos e recatos.
Me tocam de longe,
me estocam e encharcam
de lágrimas
de rios
de mar.
Sou toda sal
sou toda sol
seixos de rio meus seios
pedras no caminho
de tua correnteza-língua
derrubando tabus
aflorando taras
deflorando trevas.
Sou toda mel
sou toda céu
estrelas brilhando entregas
cometas atropelando espaços
no ventre contraído de anelos
por tuas mãos
de curiosidade cúmplice.
Sou toda leite
acre-doce deleite
fera enjaulada em cólicas
rugido ecoando nas veias
parto eruptivo de Vênus
feito por Thánatos em glória.
Ah, desejo de noite e ventos!
Deixar-me tanchar por teu verbo
até brotar-me aljôfar
seca por teus olhos de gaze.
Sem forças,
entrego-me ao dono
em permanente orvalho
aromas de pecado
riso e segredo
açude de águas vivas
queimando entranhas.
Perscruta-me com teu olhar,
disseca-me,
isola-me,
torna-me deus
nesse átimo
entre a vida e a morte.
Toma-me inteira
palpa-me
espreme-me
roça-me
deixa-me encurralada
entre teus braços
sem saída na tua boca
rendida entre tuas pernas.
Mas aproveita,
que meus instintos e gênios
não te permitirão revanche.
Dou-te a vantagem da vez
o domínio
o comando
enquanto me refaço
lunissolar.
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