Falsa Primavera

Por um breve momento

o tempo parou ao meu redor

e seguiu para trás

no meu pensamento.

Voou minha mente,

ausente de todo pormenor,

até me situar lá atrás

no meu nascimento.

Depois seguiu à frente,

contando outonos e invernos,

revendo aquela gente

que habitou o meu passado.

Nuas ou bem vestidas,

de uniforme ou em ternos,

lá estavam, coadjuvantes,

revivendo ao meu lado.

Verão todos minha história

numa pedra resumida,

mas só uma parte do antes

constará dessa biografia.

Ao contar as primaveras

percebi que uma delas

pra sempre estava perdida.

Simplesmente não havida,

não sei porque pelo Destino

me fora suprimida.

E hoje, que descortino

ter sido jubilado

de tua companhia,

me pergunto se ainda é tarde

pra viver-te, sem alarde,

e se ainda é permitido.