BALADA JUNTINHA

Grudados

sob o mesmo céu

da mesma cidade,

sob o mesmo teto

do mesmo quarto,

após, um dia inteirinho separados,

descobrimos como é bonito

tirarmos a roupa no frio

e acharmos

esse nu silêncio...

os beijos quietos,

quase puros,

falam da saudade desse dia comum

de um casal comum

que, em comum, guarda-se para o amor

em qualquer momento de descuido do tempo

à espera do olhar sempre complacente

de fazer caretas, dar língua à hóstia,

- sem penitência -

por tanta ausência de ausência!

O abraço da carne

- calor e alma -

dispensa cobertores, faz bem à cama

que, agora, arde, arde, e arde

descompromissada com o inverno,

com as chamas, com os sopros

descuidado pelo vento

do dia velado,

quando de nós ficamos separados

sob as nuvens da cidade.

E corremos para nós nos fins dos dias.

A noite é pouca,

pouquíssima demais,

para revelarmos todo amor da alma que há em nós

dois, enquanto afastados, juntos quando cobertos

pelos nossos corpos sem pudor mais nenhum

de casal a procura em meio aos cobertores:

dois corpos,

sem roupas no chão pela manhã que não dobra

os travesseiros com cheiro de tarde e noite

que calará os beijos ávidos dos casais

comuns, gastos durante o dia-a-dia.