FLAGRANTES URBANOS (3) - a lesminha
Apressada,
a lesminha quando atravessava
o banco da praça,
parou um só instante
só para observar
os namorados
- num ir-e-vir pasmoso -
antes de encontrarem-se.
Espectadora
dos beijinhos de ternura,
dos beijos maduros
- que faz a paixão crescer -
e dos molhados inteirinhos pelo amor,
a lesminha, quando quase parou
no meio do banco da praça,
observou o canivete de fino corte
rabiscar letras ferindo cascas de árvores
superficial como os corte nos dedos
que pouco sangram sem alardes
jurando até silêncio quando houver,
- se houver -
amanhã, separações.
O descuido dos homens
para com os sentimentos
pode até deixar que a mata vença a praça.
Descansada,
a lesminha ainda vive,
mesmo não chegando
ao outro lado do banco em seu caracol distante
- coitadinha! -
onde vira, um dia, tanto amor brotar
no antes: hoje, tudo é mato!