POEMA AO AMOR INESGOTÁVEL

Na alegria,

a benção,

na tristeza,

a gravidade,

na saúde,

o esbanjamento,

na doença,

a perplexidade

de perpetuarmo-nos,

lado a lado,

quais enamorados de primeira benção!

E, nesse ficar em par

- redundademente a dois -

acabaremos nos achando

em pedaços de dias dia, de noites noite,

em estilhaços de estrelas, de luares,

de pôr-do-sol e raiares

até quando,

- visceralmente juntos –

percebamo-nos visivelmente entranhados

como vegetais, como amigos, como bichos

que se misturam em cheiros

desconhecendo a razão dos odores.

Só aí, então,

- completamente nus -

desenvergonharemo-nos em público

ou em mistério, como os casados casados,

como os amantes amantes, como os namorados

namorados, sem mais segredos eternos

da retransformação

nesse mundo de planetas aprendizes

gravitando em torno da era

dos distantes.

E, constantes,

escreveremos histórias

para contarmo-nos juntos

aos que, agora,

(menos prosaicos, ridículos ou lúdicos)

exigem o suicídio do amor

só por uma saudade vã.

E, nesse amor ímpar,

onde nascemos, crescemos e criamo-nos,

não esgotaremos possibilidades

de novas bênçãos para nossa mesma casa.