TESTAMENTO
Nada levo, deixo...
Deixo as nuvens do céu, que passam silenciosas, nas tardes solitárias de outono.
Deixo cantigas de rir e de chorar, para que continuem sendo alegria.
Deixo as flores que se abrem ao pé da serra, numa doce manhã de primavera.
Deixo o olhar da criança sentindo a presença da mãe.
Deixo o alegre vôo das andorinhas por cima dos telhados.
Deixo minhas ilusões.
Deixo meus momentos de alegria e de bom humor.
Deixo meus pobres conhecimentos e minha curta inteligência.
Deixo meu sorriso triste e minha esperança alegre.
Deixo minhas janelas abertas.
Deixo cada rio que passa em silêncio.
Deixo a preocupação com as árvores. Deixo as árvores.
Deixo meus ressentimentos e minha ira, para que sejam lançados no abismo do esquecimento.
Deixo o pôr do sol, que tanto me encantou nas tardes de minha vida.
Deixo as paisagens que me fizeram sonhar.
Deixo todos os momentos de encanto e de ternura que vi nos céus de arco-íris.
Deixo meu orgulho para que seja queimado na fogueira das vaidades.
Deixo meus versos e minha lira - se, porventura algum deles despertar sentimentos de amor e de paz, terá valido a pena.
Deixo minhas agradáveis tardes de primavera.
Deixo minha lembrança e nela todos os meus amores.
Deixo as flores de abril.
Deixo uma moeda para o barqueiro...
Vinhedo, 18 de abril de 2008.