Mirante de fráguas
Poesia on line. Mote de 14.04.2008:
"A verdade alivia mais do que machuca.
E estará sempre acima de qualquer
falsidade como o óleo sobre a água."
(Miguel de Cervantes)
Também eu caminho pela difícil e intrincada passagem
querendo pisar sobre os mesmos passos dessa viagem,
tentando aquilatar o quanto de um sentimento é fornalha
e o quanto procede ao real ou só ao vento que calha.
A dor que alucina pela ausência também em mim forja,
é martelo retumbando no aço do silêncio sem um ai na gorja.
Meus movimentos se retraem mas a mão ainda retém a lisura,
calço as luvas de pelica e não me submeto à amargura.
Sinto a invasão do sangue que me pulsa em abrasamento
e calo a voz, retraio o passo e aguardo o momento.
Meus olhos lampejam, sinto e vivo a fúria em aflição,
mas a distância extingue o ato, seja de violência ou de tesão.
Esse abrir-se do que sou, a construção como quem fabrica,
vai além de suposições ao despudor e mais me qualifica
e é onde me ponho em pé e desafio a que venham
os de coragem a que façam o que quiserem, se atrevam,
porque valho-me do que em mim é chama, é fogueira,
é esse não quebrar-se, meu gargalhar dando vazão a arruaceira
que me habita e segue com a coluna ereta e altiva
por mais negações e nãos que a vida me diga.
Em mim abrigo antes, durante e depois, apenas amor,
ele é compactuado comigo mesma, com meu próprio ardor,
não depende de aceitação, nem espera recompensa;
sou o que não se supõe e muito diferente do que se pensa.
Sampa, 14.04.2008 11:15hs
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