CENA URBANA

CENA URBANA

Lílian Maial

na turbulência das ruas

a harmonia do caos emerge da sarjeta

pequenas folhas correm para o ralo

como a acariciar granitos

loucos em sua rigidez

sofrendo com os bêbados

as meninas de rua

drogados

corpos desovados

o orvalho das manhãs

vem lavar o sangue das tragédias

o desespero das ausências

o silêncio dos ventos apáticos

na copa das árvores

alheias a tudo

novas folhas se balançam

arteiras e ternas

desconhecendo a lama

o esgoto

e seu destino final

o homem varre as folhas

no solo

na cadência dos gestos

selando o caminho

das que foram, horas antes,

alegria

verde

poesia

***********