PONTES

Por debaixo, as águas deslizam verdes eternidades.

Trazem notÍcias das pedras acariciadas

nas curvas langorosas de um quase eterno trajeto,

sem estrépito, continua e serenamente.

Murmuram sotaques vagos e distantes,

que dizem das lonjuras por onde andaram,

e dos dias doces, assinados em sol brilhante

nos verdes pastos, com sombras escuras.

Falam das areias finas

e das pequenas praias

criadas nos recantos dos acasos,

onde amores se perpetuam em ritos

cumpridos a cada novo entardecer,

nas doçuras e fragrantes recatos,

com que juras e arrepiantes segredos,

se dizem baixinho, ao ouvido das pontes.

Por cima, o ruído monótono dos outros,

soprando estrídulos instrumentos vagos,

em notas que, apenas por um instante,

no ar, adormecidas,

roncam automáticos apelos de cio,

em comprovados desencontros,

ansiando presas coniventes

da mesma espécie.

São as vozes sempre iguais

das promessas por cumprir,

os momentos nascidos curtos,

como nuvens em ventanias.

No seu caminho persistente,

como num eternizado destino,

ou num fado chorado em voz quente,

esvai-se o rio no tempo dessas águas,

que, sem pressas e sem fito,

apenas rumam ao desperdício

de um imenso, pueril, nada...

Abril 2008