Amor por vir

Querida, confesso

que sempre te amei.

E mais:

amei teus belos cabelos

sem tê-los jamais

por entre meus dedos,

em carinhos perdidos

entre cachos, talvez.

Não sei.

Não sei se eram lisos

ou negros

ou partidos ao meio.

Castanhos, talvez.

Até loiros,

estranhos aos meus.

Amei teus olhos grandes,

negros e faiscantes,

como as noites tão distantes

que nem me recordo bem.

Amei teus olhos pequeninos,

claros e verdejantes,

regatos serenos como antes

havia aqui e mais além.

Amei teus olhos puxados,

sempre piscantes,

profundos e falantes

e muito lindos também.

Amei teu sorriso criança,

de moça e mulher em botão,

amei teu choro manhoso

que jamais escutei

mas sempre dei atenção.

Amei, não:

continuo te amando

e te embalando

em cantigas antigas

e te levando no colo

e te plantando pelo solo

na esperança

de um dia te colher.