O NONO DIA APÓS A LUA CHEIA

Você não vingou

como vingaria.

Guardou o troco

para o mês que vem,

não chutou a bola de futebol

não quebrou a vidraça da vizinha

não mergulhou como as águas-vivas.

Você não chegará

como chegaria.

Esperou as vindas

para ao deus-dará,

a esperança da tia solteirona

o aguardar da avó quase viúva

os presentes dos amigos de bem-querer.

Você não dormirá

como dormiria

as tardes guardadas

para a noite vazia.

Pois ela será sempre berço

para os amantes que criam na cama

a mais infinita vontade de amar, sem sentir,

que a tia casou com o primeiro desesperado,

que a avó, agora viúva, aposentou o esperar,

que os amigos perderam o prazo e a validade.

No inesperado,

as bochechas da lua farão cócegas

nas bocas de beijos cheios e novos.

Quase inesperado,

o gozo da amada abriu a janela,

fez cócegas no riso de quer poderá vir

como se aprendesse um cantar de acalantos.