Minha filha morreu...
Minha filha morreu...
Minha filha morreu.
Pedi muito a Deus que ela não morresse,
mas ela morreu.
Jovem, bela, confiante, inclusive,
de que não iria morrer.
Mas ela morreu.
Não se descreve dor nem saudades – apenas se sente
diariamente, a cada instante,
a ausência de uma parte da minha vida
que se completava, se prorrogava, na vida da
minha filha.
Outras filhas morrem. A minha não podia morrer...
Minha vida, uma parte dela se foi,
(sempre se dizem essas palavras...).
Restam memórias
que não satisfazem – aguçam a realidade da ausência.
Irrita não poder dizer da solidão que machuca,
as palavras são insuficientes,
do sofrimento que a gente esconde na prática rotineira
das coisas que se tem de fazer para que
outras vidas e a nossa possam prosseguir.
Não da minha filha,
que morreu.
A cada dia morro um pouco com ela e,
estranho,
nunca imaginei,
que esperaria a morte com até alguma ansiedade, como forma de
talvez, poder rever minha filha e fazer acabar
este desencanto e cansaço com o mundo,
que me tira a vontade inclusive de
amar.
O fim chegará e tudo acabará...
Cansaço – só resta cansaço e cada vez mais incompreensão,
e desespero contido pelas regras da boa educação,
de um Deus bom mas que não permite
o desespero.
Caminha ao meu lado
mas nunca, nunca
me deu a mão.
( in Gerundio, Maneco Editora, Caxias do Sul, 2007)