NA JANELA DO MEIO

Bem na janela do meio

Daquela mísera casa, feia e torta

De paredes frias, reboco à mostra

Varanda caída, quase morta

De susto vi em cheio

Uma jovem de presença marcante

Um rosto de uma beleza estonteante

De traços finos, cabelos em cachos

Ah! Contraste, tal moldura...

Boca pequena, de finos lábios,

Olhos agudos, fascinantes

Mãos delicadas, que candura!

Decote generoso a lhe mostrar o seio

Que a muito custo não me atirei à porta

Ao me olhar, sem disfarçar o tédio

Virou-me a face, ignorando à sorte

E senti-lhe à mofa, desprezível e feio

Tal qual as paredes frias

Daquela casa torta, de cuja única graça

Estava, apenas, na janela do meio.

Luciano

Dezembro de 2002