AS RUAS ESTÃO VERDES

ontem ainda eu corria e saltava nas calçadas

há tão pouco tempo

lia o livro do curso primário

lia todas as lições de vez

sentia prazer em inaugurar cadernos

há poucos dias fazia a prova do exame de admissão

achava lindos os meninos do colégio

um dia meu pai ficou uma fera

encontrou o marquês de Sade na minha cama

estão bem acesos os salões de baile

vejo a saia godê rodando

girando até tornar-se minissaia

queimam ainda em minhas mãos

em meus lábios

beijos impetuosos

voa com o vento o perfume em voga

um braço apertando a cintura

sob os pés o calor do chão das ruas e das praças

foi um dia desses a festa da formatura

as primeiras aulas

os primeiros alunos

há poucos instantes carne e ossos ardiam em desejo

e angústias existencialistas

as ruas estão verdes

trotam cavalos

galopam gritos nas prisões

sutiãs queimam solidão

os jornais estão mudos

gritam os generais com suas vozes de canhão

e aqueles, quem são?

espíritos?

fantasmas da opressão