Um flor é sempre uma possíbilidade de novo riso
Palavras desconexas
São como ferro retorcido
Naquela cena de arrabalde de cinema
Concretos demolidos
Carros sucateados
Árvores secas.
Às vezes me vejo assim por dentro:
Desolado
Mundo sem remédio
Ruína e tédio.
Aí me travo e quero ser inimigo de tudo
Vontade de “desnovelo”.
Nem choro nem vela nem desespero
Só solidão e silêncio
Destempero.
Desmonto todas as possibilidades de conserto
Nem música eu quero.
Convenço-me de que o mundo é sem jeito mesmo
Que somos predadores vorazes
E o civilizado é só um matemático
Tudo lhe é cálculo e geometria
A alegria, detalhe
Um entalhe na madeira
Um ranhura no aço.
E uma flor é só uma cor que escapa do concreto
Mas sempre uma possibilidade de borboleta no ar
Um pássaro
Um riso
Uma chuva leve, quem sabe...