Desígnios da Deusa Vermelha

Desígnios da Deusa Vermelha

Os fogos eclodem na derradeira noite

Ouço estrondos e espocares de champagne

Olho fixamente as palmas vermelhas

E nelas imprimo abissais desejos

Já não faço pedidos, nem imploro

Recito em voz baixa e firme

Ordens e comandos aos novos dias

Que acordem meus soldados,

Conclamem a cavalaria.

Não pressinto - nem quero-

a embriaguez ilusória da Paz.

As flores me ouvem atentas

Sinto a carícia fria do mar,

meus pés envoltos em areia fina.

A primeira e pura delícia ...

Sinto a presença do vento

que me enlaça e esvoaça

as transparências do vestido.

Vermelho tinto como as palmas ardentes.

Enquanto lhes verto os sete sentidos.

Que venham a mim as batalhas !

Já estou coberta de sangue inocente

E com vinho curo minhas feridas

Mas que venham belezas verdadeiras.

Pois das dores conheço os estilhaços

dos quais me refiz em lindos vitrais.

Da pequenez humana só resta o tédio

desse microcosmo de teores banais.

Que as flores vermelhas e meu legado

levem meu recado concreto ao Universo.

E que este traga -em prazeres- os frutos

ardorosos dos méritos alcançados.

Mais aguçada a lógica e instintos animais.

O fio que me liga à essa réstia de humanidade...

O que ainda é autêntico e faz algum sentido.

Que a mim a Arte se incorpore de modo

mais profundo e extenso. Definitivo.

Somente nela minha salvaçao.

O que me alimenta a delidadeza.

Enfim lanço as flores ao mar.

E com elas os últimos desígnios.

Quero respostas rápidas. Intensas.

Abalos sísmicos, quasares, volúpias integrais.

Os fogos cessam.

Lá se foram as esperanças

pirotécnicas e vazias das gentes

E entre esgares e cumprimentos bêbados

tento ouvir o silêncio do mundo.

Que fala comigo, bem fundo. E eu entendo.

Olho para o alto, pois sei de elementos

que me acompanham de amor em outros planos.

E para eles - cúmplice - sorrio.

Lhes dedico uma única lágrima, invisível.

Pois minha saudade desagua por dentro.

Dou as costas e prossigo, alheia a tudo.

Cai a chuva nos meus longos cabelos.

Que escorrem castanhos e dourados

sobre o vestido colado ao úmido corpo.

E no meu jeito de ser humilde -olhar altivo-

subo vagarosamente o monte escuro.

Devolvo a Deusa Vermelha ao seu Olimpo.

Claudia Gadini

01.01.06