Amanhã
Amanhã
Amanhã as canções serão cantadas
O sol lá no céu brilhará...
As crianças em nós serão ninadas
Sem lobos ferozes, nem bois de cara preta
Amanhã...
A menina seguirá cantando...
Sem anjinhos, esses que foram se deitar
A cançaõ surgirá do avesso
Onde escondem-se os medos, o silêncio, a fragilidade, a neutralidade
Sem alegrias ou tristezas
Nada mais...
Nenhum movimento evolutivo
A menina cantará seus hinos de despedida em silêncio
Ninguém a escutará
Ninguém a acompanhará
A menina desatará os nós dos sapatos
Desfará os laços da emoção
Soltará seus cabelos
Limpará seus lábios de batom
Desnudará seu corpo esquecido
Romperá os limites do planeta
Se juntará às estrelas ausentes
Se entregará ao universo
de mãos vazias e com o coração congelado
Apenas cantando seu silêncio desconhecido
Seus desejos não nomeados
Seus sonhos castrados
Sua pele enrugada
Sua covardia
A menina cantará até que sua voz desapareça
Pelo caminho a menina deixará as alegrias não compartilhadas
as dores não partilhadas
os horrores inquietos
os seus pedaços
sangue escurecido.
Amanhã as canções serão silenciadas
A menina irá se deitar
Nunca mais se levantará
Sua voz continuará silenciosa
Nem os anjinhos a acompanharão
Ela se deitará sozinha
Seu corpo ali
Sua alma lá
Seu sangue frio
Seus sentidos adormecidos.
Seus olhos deitados
Suas mãos unidas se juntarão ao seu rosto
Seu corpo encolhido esquecerá a canção da despedida
Seus lábios se encontrarão
Amanhã...
A menina deixará de cantar.
Soraia Maria Lopes Martins.