Inesperado Fim
Inesperado Fim
A primeira vez que meus olhos tocaram os seus você vestia uma camisa branca, segurava um cigarro entre os dedos e caminhava calmamente no escuro da noite.Cavalheiro solitário.
Um cumprimento cerimonioso, um até logo breve.
Aproximamo-nos como amigos, sabíamo- nos amando, um o outro.
Senti-me acolhida, segui meu caminho. Seguiu o seu. Sempre tão comuns.
Nossos passos a percorrer os mesmos espaços.
Nos descobrimos, nos revelamos.
Nada foi dito e do não dito construimos as melhores palavras, criamos os mais íntimos sentidos. Compartilhamos a vida.
Afinidades se misturavam, cumplicidade do olhar, alegria dos encontros, vontade de ficar junto.
As palavras surgiam aos pares, os sorrisos refletiam os laços.
O silêncio fazia-se ruidoso, nossos corpos se falavam.
Um sorriso, um olhar companheiro,um livro compartilhado, um filme lido, uma cerveja pra dois, chocolate pra mim, sanduiche pra você.
Um carro branco, depois o preto, o prata nas madrugadas e nas estradas.
Músicas sem danças, encontros furtivos.
Saudade urgente, estrela cadente, brisa de cheiro, verdades sabidas, perguntas caladas.
Quarto dividido, camas somadas,desejos multiplicados, ansiedades subtraídas.
Um beijo, um abraço, pernas entrelaçadas.
Adormecer agarradinhos, despertar juntinhos.
Faces rubras na multidão.
Diversidades acrescentavam, adversidades uniam.
Um espaço e outro, mais um. Meu, seu, nosso!
Experimentamos, criamos, libertamos, juntamos, vivemos, separamos.
Surpreendida, imprevisto dilacerante.
No silêncio da noite meus olhos se entregaram aos seus. Cavalheiro, de camisa branca, cigarro aceso, caminhou e seguiu.
Levou meu olhar de amar, prendeu meus gritos abafados.
Então, já distantes, eu morrendo por dentro, você se virou ensaiando um movimento. Nem um gesto, sem palavras.
Entrei no meu carro, você no seu. Não havia o que nos darmos, como poderíamos nos amar? Um do outro,no outro,no infinito de nossas vidas finitas, de nossos sentimentos castrados.
Sol nasceu atrás dos montes.Perdemo-nos!
Soraia Maria.