Trajetória

Dorme, criança.

Dorme que já é tarde,

não deverias estar aqui.

Dorme,

que tuas dores são grandes,

teu corpo pequeno.

Sei bem que teu sono

abate-lhe a face,

torna pálidos teus traços.

Não batalhe, criança.

Durma, que estarei aqui

por ti.

Teu jogo acabou,

restaram os dados,

restou a mim.

Na hora da luta

não quero te ver frágil.

Vá, e durma.

Vejo teu cansaço.

Tuas brincadeiras foram

engolidas pelo tempo,

mas não culpe-o.

Ele tem suas razões.

Ele pode gabar-se

por não ter nenhuma.

Quero que durma

para que teus olhos

permaneçam azuis.

Tão limpos, tão livres,

tão transbordantes de vida...

Não quero uma adaga

cravada na sua inocência,

acinzentando seus olhos.

Gosto dos teus pés redondos,

sempre virgens de espinhos

certeiros em sua pequenez.

Preciso seguir adiante,

vou dar meus passos grandes.

Ficam vazios, assim,

solitários.

Um silêncio toma conta

do mundo

quando não te tenho aqui.

Mas durma.

Enquanto descansas

sob os lençóis da minha essência,

viajo feliz,

mesmo que sozinha.

Enquanto souber

que te protejo,

estarei viva.

Alessandra Martins
Enviado por Alessandra Martins em 03/04/2008
Reeditado em 21/04/2008
Código do texto: T929928
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