ESPANTO

[Para um amor que debandou]

Ando atordoada

em minha própria casa,

que parece imensa,

Por onde quer que eu ande,

sinto a tua presença.

Na sala,

sofá tipo namoradeira.

Num cômodo qualquer,

a mesa do teu sonho,

vazia, esperando

a gente se amando

em perfeita harmonia.

No escritório

o fiel micro guardando

tuas fotos e minha poesia.

No quarto,

o teu lado no leito

guarda ainda o formato

de teu corpo perfeito.

Na vitrola,

Elba Ramalho emudeceu,

ante o desassossego

e a falta de aconchego...

Se abro o guarda-roupas,

o teu espaço ali, vazio,

pra nunca mais ser ocupado.

Ao pé da cama,

meu chinelo jogado

sem o teu ao lado.

Na varanda,

a profusão de cocos,

num festival verde e dourado,

tudo entrelaçado

com fitas cor paixão.

E muitas conchas derramando

o murmúrio do mar

para embalar o nosso coração.

Sobre a mesa,

um jegue de louça,

um navio-miniatura,

lembrando teu berço...

No jardim, no quintal,

as três redes

nos chamando ao repouso.

Cada canto da casa

nos convida ao amor.

E já não sou tão só,

nem estás tão ausente.

Seja lá como for,

em minha mente

iludida e doentia,

teu fantasma é a mais doce companhia.

Sal
Enviado por Sal em 01/01/2006
Código do texto: T92980