ESPANTO
[Para um amor que debandou]
Ando atordoada
em minha própria casa,
que parece imensa,
Por onde quer que eu ande,
sinto a tua presença.
Na sala,
sofá tipo namoradeira.
Num cômodo qualquer,
a mesa do teu sonho,
vazia, esperando
a gente se amando
em perfeita harmonia.
No escritório
o fiel micro guardando
tuas fotos e minha poesia.
No quarto,
o teu lado no leito
guarda ainda o formato
de teu corpo perfeito.
Na vitrola,
Elba Ramalho emudeceu,
ante o desassossego
e a falta de aconchego...
Se abro o guarda-roupas,
o teu espaço ali, vazio,
pra nunca mais ser ocupado.
Ao pé da cama,
meu chinelo jogado
sem o teu ao lado.
Na varanda,
a profusão de cocos,
num festival verde e dourado,
tudo entrelaçado
com fitas cor paixão.
E muitas conchas derramando
o murmúrio do mar
para embalar o nosso coração.
Sobre a mesa,
um jegue de louça,
um navio-miniatura,
lembrando teu berço...
No jardim, no quintal,
as três redes
nos chamando ao repouso.
Cada canto da casa
nos convida ao amor.
E já não sou tão só,
nem estás tão ausente.
Seja lá como for,
em minha mente
iludida e doentia,
teu fantasma é a mais doce companhia.