PERDIDOS E ACHADOS

Ao abrir à porta, surpreso vi!

No chão, mil quinquilharias espalhadas pela sala.

Só então me dei conta de todas aquelas coisas.

Eram pedaços de sonhos, restos de fantasias,

E até mesmo enormes poças de lágrimas cristalizadas,

Algumas, mesmo apesar do tempo, ainda azuis.

Mostravam que foram bem felizes,

Ao serem derramadas.

Provavelmente caídas, de algum armário da memória,

Sacudidas pelas intempéries da vida.

Aqueles destroços estavam tão bem escondidos,

Que não me dei conta do quanto eram importantes.

Havia ilusões em perfeito estado de conservação,

Que sem medo, posso afirmar,

Poderia usá-las em qualquer momento.

O que mais me assustava eram os medos, angústias,

Tristezas, fracassos, perdas, todas novinhas em folha.

Abaixei-me, e de joelhos pude sentir o cheiro de naftalina.

Sim, cheiravam a guardado, e tive a completa impressão,

De poder sentir o gosto, sim, o gosto amargo,

Sem dúvida.

Devo dizer que também procurei bons pedaços.

Porém, eram tão poucos, que davam pra se contar nos dedos.

Aquela canção tão linda que eu gostava de cantar,

Aquele verso mágico, que repito até hoje,

Aquela mulher encantada que comigo dançou.

O filme em preto-e-branco, que muitas vezes assisti.

Até o menino do circo, da minha pobre infância,

Que eu achei embrulhado em um pequeno e sujo

Papel de jornal.

Desse inventário triste que achei na sala,

Festival inevitável do meu viver,

Lembranças perdidas e agora achadas,

Angustiantes elos do meu ser,

Podem novamente ser guardadas...

Bem no fundo, de uma pequena mala...

L U C I A N O

0 1 – 1 2 – 06