Camuflagem
Camuflagem
Sandra Ravanini
Olhar-te vida, assim, tatuada na cortina
da janela, um emperrado alumínio tosco,
onde o ar parou, despejando a última toxina
calcinando todos os risos do meu rosto.
Jejuando, aqui estou entrevada cancela minha,
tentando apagar a cinza exumada no heu;
um cântico surrado nesta rompida linha
esgarçando o fio do vocal que um dia fora meu.
Camuflagem tão leve como a folha outonal,
me leva para o destino do fim, que encerra
de mim o fim, redimindo a marca do punhal.
Acordei o inferno acantoando a primavera.
Calcificar-te morte, cinzas e fuligens
do tempo sem fim, remissão que em mim enterra
o sorriso que esperei, jejuando e em vertigem.
Exumei o inferno acordando as minhas quimeras.
28/03/2008