ENTRE NOITES E DIAS

ENTRE NOITES E DIAS

O vento do outono sopra,

a tenda murmura ruídos.

Eu, calado, sem sono, e o pensamento exilado na monotonia inútil do tempo.

Debruço-me sobre símbolos,

atento aos cabelos desfeitos da noite:

brilhos e sombras...

E a errática pastora do céu,

a Lua, vaga a espera da aurora imorredoura

que doura doura doura o imenso deserto, sóis nascentes, o dia,

depois, incerto, declina cansado no eterno crepúsculo.

Eu, calado, sem sono, amparado na grinalda luzidia da noite,

carregado de dores, inerte em leito de folhas secas,

leio como os mortos que lêem pelas sombras

sob as pedras das tumbas,

leio os mistérios sombrios do viver entre noites e dias das quatro estações implacáveis...

Recomeça a ciranda, nada é estável.

Pelas frestas da tenda, leio fragmentos do céu,

um livro debruçado sobre mim,

e contemplo o jardim de estrelas do firmamento,

flores da noite, estrelas infinitas que brotam das trevas,

visão santa, estrelas em festas eternais,

bailarinas esplendidas,

e as inalcançáveis damas da noite ninam meu tédio,

o sacrifício de mim mesmo.

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é outono de 2008.