Doze girassóis numa jarra 
(Para Vincent van Gogh)

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Um anjo escapou
de meus olhos
e foi até uma jarra
colher girassóis
para enfeitar a casa amarela.
Em meu quarto, à cadeira
de palha trançada,
um cachimbo sentou,
hospedando a caveira
com seu cigarro aceso.
Mas aqui não fico preso,
saio ao campo de trigo,
onde corvos sobrevoam
meus cabelos ruivos
que não tapam as orelhas.
Humildes comedores de batata,
em seu lusco-fusco,
acenam para mim
e para a prostituta que passa,
grávida das ruas.
Há dois girassóis cortados
em meio a vinha encarnada.
Na noite estrelada sobre o Rodano
o anjo me acompanha
ao terraço para o derradeiro café.