ÚLTIMO DESEJO

Venham,

abandonem os carros no acostamento

e nas calçadas, atirem os dentes

e as carteiras no lixo, lamento

e delírio arrombem os cemitérios,

meu corpo permanecerá inerte

alegremente defunto

Meus olhos sirvam de lagoas podres

às borboletas, troquei a estrada

pela sombra, que o meu sangue

alimente os porres loucos dos mendigos

cansei de equilibrar na cólera o sol,

pelas chamas das velas subirei

quem sabe aonde?

Não quero mais viver os meus limites,

extrapolei de vez – melhor o fim,

abro as asas e, trapo de anjo do cortiço

- grafito a cara do palhaço no abismo,

e encontro no esquecimento alívio

deixando como último desejo

uma tocha com o sorriso da amada

espalhando cinzas do que restou dos sonhos

na entrada do meu túmulo vazio