meus poroes
meus porões
são mal assombrados
escuros
empoeirados
com teias espalhadas pelos cantos
quadros de santos
moveis antigos
decoram os ambientes
sombrios
meus fantasmas
arrastam correntes
fazem ruidos estranhos
gargalhadas
assovios
as janelas emperradas
impedem o calor do sol
o brilhos das estrelas
o ranger das escadas
rompe o silencio
espelhos quebrados
refletem a escuridão
meus porões gelados
são uma noite eterna
enclausurados
num enorme adormecer
meus porões
estão num castelo
que eu construi a partir
dos fragmentos
dos flagelos
dos meus sonhos
anseios
devaneios
que um dia
eu dividi meio a meio
e perdi
mas nesses porões
mora um sonho
que invade toda noite
o fundo dos meus olhos
abrindo portas e janelas
levando esse ar medonho
trazendo de volta
o amanhecer