À poesia, lá vou eu que me prometi silêncio
À poesia
Lá vou eu que me prometi silêncio
Clausura
Nada a dizer
Mas é assim: vou indo
E já sangro pelos dedos
Bandeira em público
Não há caneta
Não há teclas
E ela ali me vazando
É assim: tormento
As letras cutucando
Se juntando
Se armando
Se amando
Casando-se
Multiplicando-se como células
À poesia
Lá vou eu que me prometi quietude
Solitude
Não há remédio
É irremediável
Inadiável
Imprecisamente preciso me expor como puta
Em busca de leitor
Quem queira saber de nada
De aflições
De lições tão minhas
De águas passadas ainda movendo meus moinhos
Essas cismas
Fissuras
À poesia vou
Ou ela me vem e me tortura
Tritura tudo por dentro