JARDIM DE HORTÊNCIAS

Saí de mim quando foste embora;

fui-me contigo naquela hora.

Fechei portas e janelas,

isolei, passei fitas amarelas.

Fiz-me um corpo vazio,

um espaço muito frio,

p’ra minh’ alma ausente

do solitário presente.

Permaneci de mim distante,

de todo o meu ser abdicante

enquanto, alucinada, te seguia

na eternidade do noite-e-dia.

Mas numa curva do destino,

perdi-me de ti... ó desatino !

Padeci duma completa agnosia...

Na mais profunda escuridão,

vi uma luz que se expandia:

brilhava, ainda, minha estrela-guia !

Iluminada, voltei para mim.

Abri portas e janelas,

desatei as fitas amarelas.

Das ausências,

fiz mudas de hortências

e plantei um jardim...

(Para o Forum - poesia on line - 26.03.08)