Dois anjos

Vejo um anjo que corre comigo, me segue e me alucina.

Ele recorta o meu tempo, a minha carne, todo meu espaço:

— Entreguei-lhe a minha vida, meu trabalho,

tudo aquilo que pensei ser, a vã esperança,

ter o brilho que sonhara... e por um fio.

Eram apenas nuvens que — atrás do sol — o vento levou...

Encontrei — em sonho — aquele que guarda o meu ser,

onde dorme a minha paz, o meu poder... frutifica o meu destino:

— Anjo do tempo... do mar... do amor,

que me leva calor, me joga pros ares,

me rompendo as correntes...

A chuva devolve — dos céus — da vida a água que retira...