Retrato cinza

Espio as coisas

através da vida,

através das vitrinas

e asw vitrinas guardam as vidas

por detras dos muros.

Hoje canto uma canção sem coro

falo pouco e digo tudo,

o tempo das tantas palavras

ficou pra trás

em frases que nao diziam nada.

a vida está a um passo

e a vejo refletida na vitrina,

os muros já nao guardam as palavras,

os sons se espalham em pequenas

gotas de silêncio

e incendeiam o tempo

em enormes labaredas de vida.

As coisas renascem das cinzas

e a cinza das coisas varre o chão

pintando de cinza o fogo das coisas….

É tempo do fogo queimar as vidas,

incendiar os muros

e manchar as vitrinas,

tempo das palavras escaparem

e dementirem o tempo.

Em meio a tudo isso

sou aquele que corre

em socorro de mim mesmo

pinxando as vitrinas e muros,

sufocando as coisas

que insistem em renascer das cinzas….

Eu sei dos poemas,

daqueles que esperam serem escritos

aqueles que esperam o fogo

que ainda nao queimou todos os versos

eu sei das coisas

de todas as coisas que aguardam

o desfecho tagico dos dias,

hje eu sei do sonho…

Do grande sonho que nasce nessa manhã

e a noite dormirá cansado

de ser apenas sonho.

Sei das coisas que aguardam

o fim da guerra,

o fim da paz,

das coisas que guardam o mundo

refletido na vitrina….

Sei dos olhos,

desses tantos olhos

que espiam por detras dos muros,

o desfecho lucido

de toda essa insensatez,

enquanto o tempo passa.

Eu nao sei, mas desconfio

dessa força que rege a vida,

o começo,

o meio e o fim….

desconfio das coisas que senti,

ouvi

e das coisas que vi por detras dos muros

e através das vitrinas, coisas que o tempo levou

e nunca mais devolveu.

Hoje duvido

de tudo em que acredito

tenho deixado

todo o dito pelo nao dito,

mas sei dos versos

escritos de madrugada,

enquanto a cinza se apaga,

enquanto o fogo se transforma em cinza,

enquanto o cinza se transforma em negro

enquanto o negro

se reflete na vitrina

e se choca contra o muro.

Hoje sei que as velhas historias

sao apenas novos boatos

pinchados em paredes recem pintadas.

Eu jurei a mim mesmo

nao morrer esta noite,

não deixar que o frio da madrugada

esfrie o meu corpo doce

por que hoje sei que morrer é inutil….

A morte é um livro que já li

e não sei se gostei,

cheio de palavras embaralhadas

como que escrito as pressas,

uma mensagem em uma garrafa,

um bilhete esquecido

n’algum canto

para nunca ser encontrado.

Nessa noite duvidei da vida

e a vida

fugiu para atrás dos muros

enquanto minha palides

se espalhava na vitrina

em um retrato cinza

que não reconheci…..

Odair J Alves
Enviado por Odair J Alves em 26/03/2008
Código do texto: T917405
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