DUAS

Se encontraram numa idade tenra

onde sentimentos reviravam intensos

ainda desnomeados extravasavam

e não sabiam ainda como se encontrar

Pela vida foram desencontradas

cada qual crescendo individualizada

direções opostas, corações a postos

propensos a nunca se separar

Depois das quatro estações sem Vivaldi

da translação dos dias e noites

o eixo da Terra ainda tangente

as fez novamente se esbarrar

Foram se reconhecendo

revendo afinidades, aparando as pontas

sentimentos voltavam tontos

uma já era grávida de mundo

a outra paria fundo

ambas em perpendicular

Uma toca em cordas

outra solta a voz

andam esticadas em bemóis

afinadas em trilhas de notas musicais

Ainda que não dissessem nada

a mensagem era cifrada

e sempre sabia como se fazer chegar

Uma andava solta em pautas sonoras

a outra ouvia as claves

e ainda sonhava com possíveis "ais"

A outra entendia das pestanas

apertando os dedos

a outra se soltava em sonhos de colo

em braços de embalar

Uma era prosa, outra poesia

mas palavras nem sempre são suficientes pra tudo expressar

Hoje uma anda na praia

catando conchas

galopando em cavalos marinhos

ouvindo mares abertos

tomada e embriagada de estrelas

A outra na cidade enluarada

grávida de concreto

iluminando as paredes

dando vida ao cimento

criando uma ponte que volta a ligar

duas imantadas e iguais

que nunca deixaram de se amar

Helena Istiraneopulos
Enviado por Helena Istiraneopulos em 26/03/2008
Código do texto: T917399
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