Espinho

Um espinho cravado na carne carrego,

Com toda dor e ardor, ele me sangra,

De tão boa vontade cristã me persegue

Que faz do meu grito doído, voz branda.

Com espetada dura, torce meu corpo,

Crispa meu sorriso e molda-me a face,

De um modo tão peculiar e indiscreto,

Que não há modo de forjar um disfarce.

Penetra-me de crueldade, corpo e alma,

Em raro ato de puríssima generosidade.

Fazendo jorrar toda seiva que me nutre,

Na terra em que finco os pés da vaidade.

Dia e noite não cessa esse sofrimento,

Imposto para a consumação da vida.

Lembrando-me em cada passo lento,

A impotência da altivez em toda lida.

stelamaris
Enviado por stelamaris em 25/03/2008
Reeditado em 09/04/2008
Código do texto: T916575
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