Espinho
Um espinho cravado na carne carrego,
Com toda dor e ardor, ele me sangra,
De tão boa vontade cristã me persegue
Que faz do meu grito doído, voz branda.
Com espetada dura, torce meu corpo,
Crispa meu sorriso e molda-me a face,
De um modo tão peculiar e indiscreto,
Que não há modo de forjar um disfarce.
Penetra-me de crueldade, corpo e alma,
Em raro ato de puríssima generosidade.
Fazendo jorrar toda seiva que me nutre,
Na terra em que finco os pés da vaidade.
Dia e noite não cessa esse sofrimento,
Imposto para a consumação da vida.
Lembrando-me em cada passo lento,
A impotência da altivez em toda lida.