Casa de Papel
Casa de Papel
Sandra Ravanini
O retrato decifra a parede empapelada,
e buscando os olhares do semblante invisível,
vai tateando o vácuo humilhante na calada...
ouve o nada, mais um ser na espera do indizível.
Casa de papel, o cortiço cegando à luta;
descorado lixo vivendo o luxo das telas,
bebendo o esgoto azul da pátria-mãe, prostituta
no berço estúpido de uma heróica favela.
Um trapo velho agasalha a pele deflorada
da multidão; é só a fé que move tanta esperança,
e remove as montanhas de gentes amontoadas
para o morro da escória, cidade que te alcança.
A luz do fumo sufoca as vozes consoladas;
uma esmaecida boca indormida arranha o palmo
em prece; o hálito das derrotas irmanadas
sopra à casa de papel um esgotado salmo.
24/03/2008
18h28