Peixe da Terra
[ Para onde se vão os tempos do sublime acreditar ? ]
Escorrega lacônico
e se vai sem palavra.
Nada. Em estradas
de terra paralelas
que num ponto infinito
coexistem unas.
Ao fundo um mar suspenso
em vapor cinzento.
Nele mergulha brusco.
Silêncio...
Fico parada, olhar seco.
Estendo a rede no chão.
Trançada em areia e proteção.
E espero a próxima chuva.
Quieta...
E observo os ventos.
Quem sabe volte o peixe
na próxima precipitação...
A terra deve estar úmida.
E macia o suficiente
para abraçá-lo na queda
Ou talvez eu o ampare
na palma líquida da minha mão.
Só quero que isso não doa.
E que o peixe confie no
meu tato macio. Sereno.
Sabendo inexistente
a possibilidade do arpão.
E que ele nade livre
entre meus dedos de algas
E brinque nos plânctons
dos meus pensamentos
mordiscando alegre
minhas unhas corais.
Enquanto me encanto com
seus movimentos.
Em olhares atentos,
desejando que o peixe
não escorregue mais...
Claudia Gadini
07/08/05