SURTO

SURTO

Lílian Maial

Há um outro oculto,

disfarce de homem,

conveniente, correto,

analisado e discreto.

Cheio de ódio e tédio,

ímpetos adiados,

vontades silentes,

atrocidades.

Deseja,

cobiça,

preguiça.

De repente, libido!

Pecado sofrido,

tormenta de vitrine,

lenda de antigas batalhas.

Guerrilheiro grisalho,

gravata apertada,

urgentes compromissos,

noivado na sala.

A respiração pode esperar,

o impulso pode esperar,

o gozo pode esperar.

Há muita chuva e muito sol.

Tarde demais para tanto orvalho.

Restam os fuzis enferrujados,

os delírios de Lampião,

as teias das trincheiras,

com que cava o abismo

entre os nós.

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